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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TEXTOS DE E SOBRE ANTONIO MIRANDA


Foto de Antonio Miranda, no século passado, trabalhando
mum poema cinético em fotografia tomada por Margarita d´Amico.

 

OVELHA DESGARRADA
( 20.05.1993)

 

Não cheguei a ser propriamente uma ovelha negra na família, mas nunca enquadrei-me plenamente nos cânones estabelecidos... Meus pais viviam aflitos com a minha conduta desgarrada. Nada tinha de semelhante aos meus primos, nada em comum com os filhos dos vizinhos. 
Buscava minhas amizades longe de casa.
Não parava (nos raríssimos) empregos que conseguia. Preferia ler, escrever, pintar, fazer cursos avulsos. Mas fugia do curso secundário regular, onde não me sentia à vontade, nem com as disciplinas, nem, com os colegas de classe, e menos com os professores. Preferia a biblioteca...
Não é que eu não pudesse acompanhar as aulas ou fazer as provas a contento; muito pelo  contrário, quando queria, estava sempre entre os melhores alunos da classe.
É que eu não gostava daquele programa seriado, com professores ditando sabedorias e cobrando repostas-padrão... Era excessivamente bitolante e socializante para mim. Eu preferia os livros das bibliotecas, as rodas literárias, as galerias de artes, as sessões teatrais. Cultura e educação para mim, eram parte de uma mesma vivência e queria (ao mesmo tempo que aprendia) produzir, escrever, transformar, criar.
Era dadaísta, queria destruir os valores estabelecidos. Jovem, pensava poder reformar o mundo ou, pelo menos, não queria ser reformado por ele ... Não queria ser condicionado pelo mundo ordinário, pelos valores convencionais, pelos padrões generalizados.
“Para mí la literatura no vale un centavo,
y no hay nada más importante que la literatura”, foi o que reescrevi varias veces, inclusive no texto definitivo de “Tu país está feliz”, nos anos sessenta...
Eu era meu próprio personagem. Imaginava-me — como ainda me imagino — em situações imaginárias, no universo da ficção real, do real fantástico. Tinha um desprezo grande pelo real real, tão pequeno, tão imediatoa, tão mesmice, tão fortuito. O real tinha que ser maior, simbólico, transcendente, superando o óbvio, o senso comum, a - média.
No fundo, acreditava ser a literatura mais importante que as vidas, se não mais importante do que a própria vida. Se é que não acreditava ser a literatura, certamente, superior, parte de uma experiência mais elevada, sublimada, criada sobre convicções mais elevadas.
Ítalo Calvino, o grande escritor italiano — que eu não conheci na minha juventude, embora ele já tivesse escrito algumas de suas obras definitivas, mas ainda não traduzidas ao Português — parece compartilhar dessa certeza de que a vida só vale a pena se imitar a literatura.
***
A matéria prima de minha literatura é a realidade. Não exatamente a realidade real: a cópia, decalque, documento. Uma realidade transformada em palavras amoldadas pelas palavras. Nem ficção, nem realismo. Palavras encadeadas enfileiradas, aproximadas pelas suas insinuações, pelo seu próprio ritmo, pela sua musicalidade.
Arquitetura de palavras, arabescos verbais, partindo do cotidiano pra ao tempo das sentenças, das frases elaboradas.
Não sei se a realidade contida nas palavras é ainda mais real que a própria realidade que se esvai... A realidade das palavras permanece, a outra flui, esvai-se, transfigura-se.
A literatura acaba seno a única realidade possível, perman-ente, múltipla, recriada e recriável, que se desdobra no tempo e nas próprias pessoas, irradiando-se.
Saio de mim e me vejo nas palavras dos meus tempos. Sou vários personagens, sou várias pessoas ao longo de minha existência. Cada uma guarda um pouco da anterior, superando-se. A pessoa real vai decompondo-se, as outras, plasmadas no verbo, vão compondo-se,  aperfeiçoando-se, superando-se.
A vida só é superação mediante a palavra, que faz de uma existência singular outra plural. A primeira só existe para si, passante, a outra é de todos. Acolham-me!!!
A pessoa acaba, a palavra continua.      
***                  


 

 

 
 
 
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